O espetáculo da F1 e o perdão reservado aos heróis masculinos
- Raphael Rosalen
- 5 de jul.
- 6 min de leitura
Em junho de 2025, a Apple desencadeou um dos maiores acontecimentos cinematográficos do verão norte-americano: F1. Estrelando Brad Pitt, a Apple faz uma grande aposta financeira com um dos últimos super-astros de Hollywood que ainda conseguem atrair grandes públicos. Com orçamento estimado em mais de US$ 200 milhões, trilha sonora assinada por Hans Zimmer, e tecnologia sensorial — incluindo o chamado haptic trailer (vídeo promocional que faz o iPhone vibrar em sincronia com a ação na tela) —, o filme estreou em cinemas IMAX e salas tradicionais ao redor do globo. Não foi apenas um lançamento: foi um evento cuidadosamente construído para ocupar todas as telas e feeds ao mesmo tempo, com trailers circulando no WWDC e no Super Bowl, transformando um filme sobre corrida em um marco corporativo disfarçado de fenômeno cultural.
Trilha sonora: o batimento cardíaco do espetáculo
A trilha sonora, lançada no mesmo dia da estreia, foi pensada como produto global. F1 the Album, selo Apple e Atlantic, reuniu nomes como Don Toliver e Doja Cat (que lançaram o single “Lose My Mind”), Rosé do BLACKPINK, Ed Sheeran e Tate McRae. Não se trata apenas de acompanhar imagens de velocidade: é criar um ambiente emocional que conecte o público ao filme antes mesmo de entrar na sala.
Segundo o UOL, a divulgação foi quase tão estratégica quanto o filme em si. Singles saíram em blocos nas principais plataformas, com prévias de 30 segundos incorporadas a vídeos promocionais e teasers para TikTok. É interessante notar como essa trilha resume o projeto inteiro: uma mistura de nostalgia esportiva e pop urbano, som de campeonato e algoritmo. Em uma era em que a música virou ativo publicitário, F1 confirma que nenhuma superprodução chega sozinha. Ela vem acompanhada de playlists, vídeos verticais, e hashtags.
Na prática, esse modelo consolida a música como um componente inseparável da experiência audiovisual. O streaming não é mais só um lugar de consumo: é o terreno onde trilhas sonoras viram prova de relevância cultural, impulsionadas por artistas globais. E se boa parte das críticas ao filme apontam seus clichês narrativos, ninguém parece questionar o poder da trilha em legitimar o espetáculo.
O investimento bilionário e a narrativa de poder
O orçamento divulgado pela Variety e repercutido no UOL variou entre US$ 200 e 300 milhões. Embora não seja o maior entre as superproduções de 2025, ele posiciona F1 dentro de uma faixa que rivaliza com lançamentos como Mission: Impossible – The Final Reckoning, que chegou aos cinemas com investimento estimado entre US$ 300 e 400 milhões, e The Electric State, da Netflix, também acima dos 300 milhões. Ainda assim, a combinação entre um astro como Brad Pitt e os avanços tecnológicos promovidos pela Apple — incluindo câmeras personalizadas e o uso inédito do haptic trailer— acaba elevando o projeto a uma escala simbólica rara. Não se trata apenas de dinheiro: é o poder de transformar a persona do protagonista e a promessa de inovação em argumentos de relevância. Quando essa fórmula se organiza, o filme inteiro passa a carregar uma aura de importância que ultrapassa qualquer planilha de custos.
Diferente de outras produções grandiosas, F1 não busca reconstituir fatos históricos. Sua missão é mais ambiciosa: criar uma memória coletiva antes mesmo de existir. É por isso que foi filmado durante Grandes Prêmios reais, com câmeras personalizadas que capturavam o ambiente como se fosse um documentário, e anunciado em eventos corporativos globais como o WWDC.
O UOL lembrou que essa estratégia é inédita em muitos aspectos. O filme não só foi promovido com trailers e entrevistas, mas teve “recortes hápticos” que transformavam vibrações no iPhone em parte da experiência sensorial. No Super Bowl, a Apple pagou milhões por espaços publicitários exclusivos. Ao longo de junho, F1 ocupou a primeira posição em buscas de entretenimento na própria plataforma da Apple TV. O filme virou um laboratório de como a Big Tech pode moldar o consumo cultural e criar eventos que se confundem com lançamentos de produto.
Em alguma medida, F1 é o ponto culminante de uma década em que marcas de tecnologia deixaram de ser apenas distribuidoras. Elas se tornaram produtoras, curadoras, proprietárias do canal e mediadoras do debate público. O investimento bilionário não é só pelo lucro imediato de bilheteria: é uma aposta em consolidar Apple Originals como selo de autoridade simbólica. Uma espécie de credencial para que toda e qualquer produção futura chegue com aura de importância.
Brad Pitt: herói reconstruído ou personagem editado pela mídia?
No centro de tudo, Brad Pitt encarna Sonny Hayes — um piloto veterano que volta às pistas para enfrentar seu passado. Essa é a narrativa oficial. Mas fora da tela, Pitt também atravessou caminho parecido; voltando aos grandes holofotes após um longo período marcado por investigações e disputas públicas. O caso mais conhecido foi o episódio ocorrido em um voo em 2016, quando Pitt foi acusado de agredir um dos filhos e também sua então esposa (cujo nome prefiro não mencionar aqui, porque casos de violência que ganham projeção pública frequentemente expõem ainda mais a vítima do que o agressor, e meu objetivo não é reforçar esse desgaste). O FBI investigou o episódio, mas nenhuma acusação criminal foi apresentada, e o processo não resultou em condenação. As negativas sempre partiram de seus representantes legais e de fontes próximas ao ator — até hoje, Pitt nunca fez declarações públicas diretas sobre essas acusações.
O mais interessante não é só o retorno dele ao protagonismo, mas a forma como o discurso promocional se construiu. O colunista Roberto Sadovski destacou que críticos aplaudiram a performance de Pitt, elogiando seu “charme e humor.” Mas a maior parte da cobertura ignorou o passado conturbado do ator. Isso não significa que a mídia esteja obrigada a retomar sempre as polêmicas, mas revela como determinadas trajetórias masculinas podem ser editadas a favor da narrativa da redenção.
Na minha leitura, como pesquisador de cinema e mídia digital, essa ausência de questionamento também faz parte do espetáculo. Brad Pitt não é só o ator principal: ele é a prova de que a cultura pop adora consumir histórias de renascimento — contanto que o protagonista seja um galã; um homem, branco, hétero, e de derreter os olhos. Essa combinação, por si só, já cria a aura de respeitabilidade que protege do desgaste. E também é importante notar que esse estereótipo de renascimento nem sempre é apresentado através de reponsabilidade civil, mas é predominantemente marcado por uma aparência de maturidade emocional e, o mais importante, carisma.
O duplo padrão de gênero na indústria e no envelhecimento
Esse contraste fica ainda mais evidente quando olhamos o que acontece com mulheres em situação semelhante. Atrizes que enfrentam processos ou polêmicas — mesmo em proporção muito menor — quase nunca têm a chance de comandar um filme de US$ 300 milhões. Na verdade, muitas desaparecem dos papéis centrais por anos, se não para sempre. Quando retornam, precisam explicar, justificar, pedir desculpas.
Já o envelhecimento masculino segue sendo celebrado. Aos 61 anos, Brad Pitt segue sendo descrito como charmoso — um charme que, somado ao prestígio acumulado, reforça essa imagem de maturidade que a indústria adora cultivar em seus protagonistas masculinos. Mulheres da mesma faixa etária, em contraste, são frequentemente retratadas como “fora do perfil” para papéis de relevância. Esse duplo padrão não é exclusivo de Hollywood: ele ecoa na publicidade, na política, nos cargos executivos. Ele cria a ideia de que homens só melhoram com o tempo, enquanto mulheres perdem valor.
O resultado é que F1 acaba funcionando também como metáfora: um filme sobre velocidade, competição e poder, protagonizado por alguém que — na vida real — também precisou recomeçar depois de “acidentes.” Mas recomeços não são dados a todos da mesma forma. O perdão midiático é distribuído com critérios que raramente passam pelo mérito.
Quando a bandeirada final chega...
F1 não é apenas uma corrida filmada em altíssima definição. É a síntese de como a cultura popular moderna se organiza: uma engrenagem de tecnologia, nostalgia, e storytelling que fabrica ícones e reinventa reputações. A pergunta que fica é incômoda, mas inevitável: quem tem o privilégio de reconstruir a própria imagem diante de todos?
Quando a bandeirada final chega, fica claro que o verdadeiro privilégio não é apenas correr. É ter sido autorizado a entrar na pista.
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