Álcool e drogas: o que existe do outro lado do muro?
- Leticia Moreira Viesba
- 1 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de fev.
Uma perspectiva além do que se vê na Cracolândia
O centro da cidade de São Paulo é o perfeito símbolo dessa metrópole, com arquiteturas marcantes, centros comerciais que atraem todos os cantos do país, prédios antigos e muitas pessoas circulando todos os dias.
O calar da noite e os finais de semana dão lugar aos verdadeiros moradores desses bairros, muitos migrantes e imigrantes, também residentes de prédios luxuosos, mas a maioria das vezes, quem aparece nas manchetes são os moradores da Cracolândia.
Essa é uma área, de algumas ruas, conhecida pela alta concentração de pessoas em situação de rua, usuárias de droga, daí o nome, provinda da disseminação do crack. A Cracolândia existe desde a década de 90 e desde então diferentes iniciativas foram tomadas com a finalidade de dispersar essa concentração de pessoas. Todas essas etapas são amplamente divulgadas em jornais e material de campanhas políticas, então usaremos um espaço do Jornal O Democrata com a finalidade de mostrar e refletir sobre uma perspectiva além do que se vê na Cracolândiao que geralmente não é mostrado.
Falando no que “não é mostrado” uma das últimas manchetes sobre o assunto foi: “Prefeitura de São Paulo constrói muro de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura na Cracolândia”. As discussões sobre essa decisão foram inúmeras. Excluiu mais ainda essas pessoas da sociedade! Organizou melhor o espaço com a finalidade de promover a segurança, privacidade e facilitar o cuidado dessa população! Criação de um “campo de concentração” de usuários!
Além do que já foi dito, vamos aproveitar a visibilidade do momento para mostrar um pouco do que existe além dos muros... Se você passar por essa rua, talvez não veja quem está do outro lado, de que maneira eles vivem, e quem são as pessoas, mas estar as cegas, dentro da caverna, ou olhando para o outro lado, pode me dar a oportunidade de te apresentar o que talvez você não enxergasse, mesmo se não existesse esse muro.
O Pagode na Lata, por exemplo, uma iniciativa que acontece periodicamente na área da Cracolândia, é uma roda de samba que permite que todos participem, incluindo os usuários e dependentes que vivem ali, proporcionando que eles tenham acesso a outras oportunidades, outras pessoas, respeitando suas vontades e necessidades, afinal independente da condição que as pessoas se encontram no momento, todas elas têm direito à felicidade, a se divertir, interagir, sorrir, dançar, cantar, ter experiências e viver bons momentos.
Essa iniciativa e a autora desse texto trabalham com a perspectiva de Redução de Danos (RD) para com o assunto de uso de álcool e outras drogas. Segundo o Ministério da Saúde, essa é uma estratégia de saúde pública que busca controlar possíveis consequências adversas ao consumo de psicoativos, sem necessariamente interromper o uso, buscando a inclusão social e a cidadania para os usuários de drogas.
Essa é uma vertente que começou a ser discutida em 1926 na Inglaterra, e no Brasil começou como estratégia de prevenção à aids entre usuários de drogas injetáveis, e depois se diversificou e ampliou. Hoje a RD já é consolidada no mundo, mas ainda muito complexa, e por vezes, polêmica. Por isso vamos continuar falando sobre ela nos próximos meses, com exemplos, perspectivas e novas opiniões.
Dê a sua opinião, também, e vamos dialogar em prol de uma sociedade mais digna para todos, independente de quem e de que forma estiverem vivendo.

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